quarta-feira

Cegueira Branca - José Saramago


Uma cegueira branca toma conta dos olhos da alma. De repente os olhos da alma se vêem banhados de leite profundo. Derramado cá, dentro de nós, sem sabermos por onde.Uma branquidão que nos inunda, não há causa biológica, problemas de outra lógica.Que paisagens podemos contemplar se um contagioso mal branco assola os olhos de nossas almas? Vai a humanidade aquém ou além diante do desamparo instalado frente a angústia monocromática que nos convoca?

sexta-feira

Vitorinha


"E assim que ela caminha
Pés descalços na cozinha
Embaraça toda linha
Como e come e é magrinha

E quando chega manhãzinha
Ela logo me esquadrinha
Me entregando o que eu não tinha
Dizendo que é irmã minha"

“Autoria própria”

"Eu sei!

Que flores existiram

Mas que não resistiram

A vendavais constantes”


(Maria Bethânia)

quinta-feira

Tutirania


"Eu vou com frio ao contrario do vermelho,
Vermelho no pescoço de nervo
Alegre vermelho do frevo,
Relevo do exausto vermelho,
Das quatro folhas do trevo.
Vermelho de vergonha...
...da minha bochecha que agora escrevo!"


Autoria Própria

sábado

Trocando em Miúdos - Chico Buarque

Hoje mais um aniversário de Gilmar, é só assim que o encontro uma vez por ano na data do seu aniversário, tudo sempre muito agradável e a piada é sempre a mesma: - “Só assim para ter ver, o dia que você não fizer mais niversário não lhe vejo mais”. A piada é sempre a mesma, mas é sempre engraçado, pois ela demora um ano para ser repetida.
Na vida podia ser assim também, rotinas com intervalo de um ano, assim os relacionamentos durariam mais, e as coisas sempre seriam engraçadas.
Bom não era bem isso que eu ia escrever, mas as palavras surgem e vão sendo debulhadas na tela. Esse ano foi diferente para mim, ouvi uma música que não conhecia. De uma riqueza poética, com variações de sentimentos.
Hoje divido ela com vocês.
Letra:
Chico Buarque
Música: Francis Hime

"Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
Não me valeu Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim ?
O resto é seu
Trocando em miúdos, pode guardar As sobras de tudo que chamam lar
As sombras de tudo que fomos nós
As marcas de amor nos nossos lençóis
As nossas melhores lembranças
Aquela esperança de tudo se ajeitar

Pode esquecer
Aquela aliança, você pode empenhar
Ou derreter
Mas devo dizer que não vou lhe dar O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago no Meu peito tão dilacerado
Aliás Aceite uma ajuda do seu futuro amor Pro aluguel

Devolva o Neruda que você me tomou E nunca leu
Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde"
"Chico Buarque"

Sine Qua Non


"Agradeço a solidão, pois sem a qual não escreveria."

Desarrumação Melancólica

Desespero nos cômodos quadrados.
Ao lado amontoado;
À frente emaranhado;
Atrás enovelado.
Onde está a chave?
Por que me irritas?
De onde surges que não vejo?
Por que vem e cresce?
Cigarros entre revistas...
...Papéis entre CDS.
Ar de cor bege, cheiro de insatisfação.
Pesa, cala, amargura, sua o rosto de engordurar os dedos.
Calabouço da desordem;
Cansa aprisiona.
"Autoria Própria"

sexta-feira

Ponto de vista


Com o passar do tempo, a chuva que cai na sexta à noite e a solidão de quem fica, acaba sendo saborosa. Isso pode ser sorte ou azar. Sorte por poder ficar só, amante de si, quem ama a si não tem rivais. Azar pelo simples fato de haver um motivo oposto. Mas esse motivo oposto também pode ser sorte... Ou azar.
"Autoria própria"

Um Café que não Deu Certo


"Acredito que quando tomamos um cafezinho apenas para ficar ao lado de quem se ama mesmo não apreciando o sabor deste café, nos tornamos seres capazes de amar e doar, o fato de atrasar o tempo do tchau torna-se uma grande prova de amor.

Quisera eu um ser amado que no fel de um jiló olha para mim com cara de satisfação, um sorriso glacial e diz: - Hum que jiló saboroso! Vamos comer outro?

A grande pena da humanidade é que o dia a dia as pessoas vão perdendo o ato de sensibilizar com atos alheios, no entanto o que é para ser uma grande prova de amor acaba se transformando em uma grande falta de personalidade.

O desvio da idéia mata o convívio e as verdadeiras intenções, fazendo o engraçado virar sarcástico, o romantismo virar melancolia, o impor virar peitar, a patologia virar frescura, o abraço virar aproveitamento, e o individual virar egoísmo.

Na verdade tudo isso é apenas a maneira na qual olhamos determinadas situações, e para essa cruel contradição nós podemos contar com um apaziguador chamado diálogo, que para infelicidade de dois corações nem sempre comparece na hora exata, fazendo da grande catástrofe apenas um café que não deu certo."
Autoria própria